Casa Pia...episódio II???

É de se perguntar que tipo de justiça existe no nosso país quando se lé as ultimas noticias. Qual não é o meu espanto ao ler as ultimas noticias no jornal “Correio da Manhã” que segundo Catalina Pestana, ex-provedora da Casa Pia, “…ainda existem abusadores internos…existem fortes suspeitas de redes externas que continuam a usar miúdos da Casa Pia para abusos sexuais”.

Mas afinal para que serviu aquele processo altamente mediático que revelou os lados mais sordidos da natureza humana se tais actos continuam a existirem no seio desta venerável instituição ?

Numa entrevista, e ainda segundo o Correio da Manhã, a antiga responsável garantiu saber da abertura de um inquérito porque já foi ouvida, acrescentando que, “não sei o que aconteceu entretanto, mas espero que, com a mesma frontalidade com que o senhor Procurador diz que o Código de Processo Penal tem de ser alterado, também não deixe ficar esse inquérito no fundo da gaveta”.

Segundo fonte do gabinete de Pinto Monteiro, a Procuradoria Geral da Républica recebeu a queixa da ex-provedora e procedeu à abertura de um inquérito-crime. Uma situação confirmada pelo próprio Procurador que, em declarações à RTP, disse não saber se os abusos sexuais naquela instituição continuam, mas que recebeu a denúncia de Catalina Pestana e a remeteu para o departamento competente, que está a investigar o caso. Segundo o jornal, o Ministério da Solidariedade Social, que tem a tutela da Casa Pia, escusou-se a comentar as denúncias da antiga provedora, considerando que é necessário salvaguardar a reputação do estabelecimento e dos alunos que o frequentem.

A corroborar as denúncias de Catalina Pestana surgiu Pedro Namora, antigo aluno da Casa Pia e advogado, que, ainda segundo o jornal, disse não ter provas, mas que subscreve as palavras da antiga provadora, garantindo que os alunos andam outra vez “cá fora” e são vistos “a jantar com personalidades que não conhecem de lado nenhum e a serem transportados de carro”, o que indicia um reinicio da prática de pedofilia. Muitos se lamentam que Catalina Pestana tenha voltado a meter o assunto nas primeiras páginas dos jornais, considerando que uma das diligências da ex-provedora era zelar pela reputação da Casa Pia.

Mas meus caros amigos, se ela não o tivesse feito, serà que poderiamos garantir a total integridade da instituição e do que (parece) continua a suceder? Serà que por và-se là saber que tipo de ideas da era “victoriana” temos de esquecer que o mais importante são as crianças e que deveriam ser essas mesmas a nossa principal preocupação, verificar se o relatado é verídico e se tal for o caso assegurar que tais actos não se repitam e que as crianças possam olhar para o futuro que as espera com outros olhos...com optimismo e confiança?

Faço minhas as palavras de Catalina Pestana “Espero que não deixe (Procuradoria Geral da Républica) ficar este inquérito no fundo da gaveta”!

Artigo no Correio da Manhã de domingo 7 Outubro 2007:

As suspeitas de novos abusos sexuais na Casa Pia participadas pela ex-provedora Catalina Pestana e que estão a ser investigadas pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa – coordenado por Maria José Morgado – apontam para uma falha no processo de reestruturação do ensino da instituição que acolhe crianças carenciadas e sem família.

“A ser verdade fico bastante constrangido”, disse ao CM Roberto Carneiro, que liderou o conselho técnico-científico que criou as directrizes para uma reforma da Casa Pia. O antigo ministro da Educação entende que, a confirmarem-se as suspeitas, significa “que falhou o acompanhamento das crianças e que os formadores não estão em condições de se dedicarem em pleno à sua missão”.

A aposta na formação foi um dos princípios base que orientou o trabalho da comissão. A comissão científica projectou uma reforma profunda da Casa Pia que visava a formação de crianças sem família e ensino profissional, em detrimento do ensino para alunos externos.

Roberto Carneiro, desconhece se, três anos depois de concluído o seu trabalho, esta reforma foi concretizada. “A comissão não tinha responsabilidades executivas para uma posterior avaliação”, disse.